Menino no asfalto
ou Por estes asfaltos solitários

Entre fuligens e roncos ameaçadores
despreocupados passos, um poeta
questões urgentes o devoram neste lento pensar...
É preciso uma rima
é preciso criar
é preciso que venha a poesia
E nestes vagares passar
tropeça nos olhos de um poema
é a poesia pedindo passagem
solitários caminhantes em buscas diversas...

Revoltam-se olhares de renovados sentimentos,
entre a poeira e a fumaça dos automóveis,
o futuro pede por moedas...
com olhos agudos e uma doçura calculada na voz
de uma infância há muito escondida
nas crostas feridas das ruas
mas que lhe serve,
ele sabe das comoções de certas almas
mas mal sabe o menino-poema
que a doçura de sua imagem já basta aos poetas.

Nos asfaltos e semáforos a poesia desimporta,
pede passagem entre corpos em irritados desviar-se,
contatos indesejados
a poesia pede moedas
e atenção...
Moedas são ainda mais fáceis
que uma palavra e um gesto de carinho...
e o menino-poema segue,
olhos pedintes e espertos
brilhantes de pratas e dourados descolados,
descrente de uma outra moeda que dizemtem um maior valor,
uma tal de amiga palavra
e um desconhecido amor.

Ao poeta?
Resta a doce angustia de ver o mundo
e tentar encontrar-se nestas letras
de um menino-poema
de quem é preciso falaré preciso gritar
que sorri entre tantas faces
de ferrugem e pó, que sabe brigar como poucos
que desaprende a cada dia a chorar
é preciso e necessário neste poema
ele, o menino-poema
que nunca soube dessa tal poesia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que poema mais sensível e tocante , me fez parar e pensar
Muito obrigada por essas palavras !
beijinhos

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