e eu nem sabia que isso existia


é tua boca meu delírio acalentado
quando o branco dos teus dentes

contra-encontram os meus lábios
soam blues em tons rubis
um enlace em sonatas

são teus dedos me chamando
não entendo o corpo que estremece 
tua boca invadindo o que tenho de segredos
tua fome não me deixa e faminta soluço-peço

e de vez em quando eu aqui pensando
minhas irmãs já se casaram e eu moderna
pois eu gosto e prometi liberdade ao meu eu

ah! meu amor! meu amor! meu amor
eu não queria mas é tua presença
esqueço minhas promessas
de repente são palavras tão vazias

e foi lá no jardim quando a primeira vez
a tua mão na minha eu não sabia
eu não sabia que isso existia

e eu sempre quero te dizer que não não não...
e eu digo sempre não, não pare nunca

minhas incertezas empalidecem
em tua boca uma fé que desconheço
rezando minha nuca em língua nebulosa
e se eu não tivesse tantos cachos
(agora erguidos por você) estaria loira
será que tuas mãos me tocariam?

o que há em ti que me entrego
se eu não acredito é no amor?

mas quando vais embora eu choro
choro e fico só com esses desvarios
hembra pálida a te pertencer
minha pele não esquece
tem teu cheiro no ar

ainda que usas um sabonete de erva doce
e a tua boca também é tão doce doce... doce
e quero mais sempre mais

era o camafeu que minha avó me deu
e eu nervosa derrubei quando telefone tocou
sentidos inventados fora de ordem

ah, a minha pele é tão pálida em tua cor morena
que bonito quadro nossos corpos assim tão juntos
e todo esse calor mesmo lá fora chovendo
derrama-se orvalho silencioso é tão bom

e nem gostas assim de poesia
te fiz tantos poemas

e de resposta o teu silêncio
e eu nem sabia que isso existia

teus olhos desnudaram o papel que me cobria
tua voz só me disse da poesia que deseja:
as minhas coxas e o mistério escuro
onde quer triangular-embriagar-se
e em tua língua um mormaço
que te chamo de poeta
um verso que não rima
uma prosa ensandecida
garganta enrouquecida

domingo na prainha, água e sol
soltamos pipa e eu falava pandorga
e teu riso foi na brisa riscando o céu

a rabiola brincava ensandecida
eu desejando te ferir: te odeio
teu sorriso complacendia a tarde
disse apenas um pouco mais de vinho
e fique assim comigo tão quietinha
abriguei tua vertigem, oscuro acalando

amei e te odiei desejando mais e mais
foi tão bom teu abraço ampliando o sol
mesmo depois eu jurei que nunca nunca mais

a pandorga/pipa foi embora
só ficou aquela linha que guardei
entre rendas, seda e algodão
na gaveta lá de cima não esqueci

 
eu não entendia mas eu pressenti e sei
sei que somente assim contigo eu ganho o ar
feito aquela pipa domingueira

4 comentários:

Ignacio disse...

Yo te leo, y a veces recomiendo en mi blog, pero no comento mucho: a veces, no hay nada que comentar; pero sí queria que supieras que estoy aquí.

Tânia Souza disse...

Ola Ignacio, seja bem vindo, obrigada por me visitar, vou conhecer o seu blog! Deixe um oi quando vier!

Anônimo disse...

Muito interessante a forma como você lidou com os dilemas na poesia, quando não se acredita em algo e esse algo existe, quando você contrapôs a liberdade, ou seja a escolha por ela, e o amor que muitas vezes acreditamos não existir, porém ele dá provas de existência, gostei muito mesmo.

http://intercon-x.blogspot.com/

Unknown disse...

Lindo entrar y leerte.

Un biquiño

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